sábado, 15 de agosto de 2009

escravidão voluntária, 1998




Como poderia não te perdoar...
fostes a semente da urdidura que motiva-me a viver
a ti pertence a realidade castanha de minhas visões
e serás o julgamento piedoso de minha danação.

Se amo cada defeito impiamente sagrado
que te define e me contradiz
pois esta em ti a fórmula cicuta da salvação
a qual velo, rezo e ojerizo.

Pois odeio-me por não te possuir
e odeio-o por amar-te livre
me colocando voluntariamente em escravidão
que inocentemente mais uma vez me domina.

FFLCH, 1998





A memória sob mãos proveitosas
gestos que escondem versos
trajetos que desviam deslizes
olhos que cerram a mente.

Luzes que calam e matam
traumatismos que cicatrizam
sob a agua corrente.
Alicerces de areia.

Lágrimas a escolta
música aos porões
silencio aos inocentes.
Beijo da amnésia.

Quiromancia, 1998




Sigo as linhas proféticas de minhas palmas rosadas

mostrando a solidão nestas cicatrizes natas

Procuro por sinais glorificadores de sua presença

por rugas da juventude ou marcas do porvir.


Sinto a latência central sob a pele marcada

comandando um cruzar geográfico de veias e pulsações

que desesperam-se a manter os fluidos místicos de minha trajetória

a medir na intercessão das linhas a possibilidade de união.

Impossibilitado de me conhecer

pois nem ao menos familiarizo-me com minha palma

abandono a tradição quiromantica do ser
para entender-me unicamente em sua pessoa.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Calculado silêncio,1998





Quebro o silêncio líquido de nossas mentes

pois chovo por querer-te vento

imaginando seu contemplativo olhar
tornar-se espelho

sua utópica pele transfigurar-se fronteira.

Temo por sua voz hora real hora covarde
em declinações paternal fraternal e filial

Elevando-me às brasas de sua respiração

que sufoca por tornar-me livre.


Hipnotiza-me com seu aspirar faminto e egoísta
e seu espirar ofegante de Azarro

Desejo sua voz como um suicida a liberdade

seguindo a força catalisadora de seu calculado silêncio.

Realidade Fatal, 1998.



Gostaria de poder tocar as faces morenas de meus fantasmas...

Sentir entre meus dedos o transpassar das luzes que me agridem

vendo-me invadido e proprietário deste prisma ideal.


Percebo-me trêmulo...
pois não posso me possuir sem antes te tomar.

Não serei sonhos de minha realidade açoitada

Nem príncipe entre véus cinematográficos.

Sendo assombrado pela corrosão que me abate

deixando-me perecer pela doença que me sustenta

que oscila entre letargia nirvânica
realidade fatal.

Platônico 1998




Desejo seu toque tempestuosamente macio
a aflorar-me como mártir de meu corpo
Quero sorver-lhe pelas farpas o seu céu
e destronar-te a uma humanidade acessível.

Demolirei nossos adarves intragáveis
para ressurgir a flor-acre de sua pele
Fundarei em seu corpo um império aminístico
onde poderemos nos eternizar em paraíso dual.

Façamos de nossos lábios, abismos
e de nossas palmas, âncoras
façamos de nossos corpos, abrigos
e de nossos desejos, feitores.

Para abraçarmos o inconquistável
onde surgirá o que sempre existiu
conseguindo solidificar nossos espectros
como a nódoa de nossas respectivas mentes
em nossos corpos trocados.