quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Frutos





A felicidade luminosa de folhas
...

Verdes torres esvoçantes

Na árvore da vida

agradeça a todo fruto como dádiva.
Uns ao chão

outros na mão.

Galhos lacrimejam laranjas

que escorrem sementes ao chão....

Quinhentos




E são tantos quinhentos...

continuidades incoscientes

transformações abortadas
No fio umbilical

toda família toda propriedade

o fluir sanguineo do passado

carnificando-se no Sempre.


Poucos quinhentos,
cheques pré-datados
portas ausentes de paredes
vozes vazias em ouvidos surdos
No rosto o plácido

No coração o transpassar de lâminas
A dor oscila na máscara

por não querer comunicar...

por não ter a quem comunicar...
por não haver o comunicar...

Apenas quinhentos,

séculos colhidos ao campo
moedas atiradas ao poço
gramas pousadas nos pastos
números perdidos entre palavras.

Quinhentos,

a metade de Mil e Uma Noites

o crepúsculo

o amanhecer

onde dorme e acorda
a lâmina sobre o pescoço.


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

naipe



A musica é escutada e esquecida

A paisagem é vista e esquecida
A viajem é aventurada e esquecida

Só as pessoas ficam
como cartas embaralhadas...

S.P, 1997



Percebo luzes
que sobrevivem ao zunido estrépito da metrópole.
Me pergunto
sobre as vidas singelas ou depravadas me rodeiam neste momento.
E me vejo dentro de todos esses dígitos e fôlegos vitalícios.

E só você me arde em vénias,

como gota de nitidez

neste habitat que de forma insolente
insiste em desertar da simetria natural.
Seu olhar, seca minha mente
de maneira que esta estiagem
descompassa minha solidez ostentante
me flagrando em motins de pensamentos.

Gostaria de viola-la e toma-la
de forma simples e real
Sendo absorvido pelo manto de hipóteses
que abraçanos
e desforra minha ciência.

Mas, é mais fácil ter a corpulência
para enfrentar essa cidade
do que possuir a audácia de afagar-me e afogar-me em seu olhar.

Árvore do amor





Pomares de momentos entusiasmados

raízes acalentadas entre a afeição e o desgosto
Um tronco tutelado e escravizante
revestido pelo orvalho libertário

Esse é o sustentáculo da razão
essa é a verdade da piada
a sombra bendita do consolo
a fonte de uma tortura aconchegante

sábado, 15 de agosto de 2009

escravidão voluntária, 1998




Como poderia não te perdoar...
fostes a semente da urdidura que motiva-me a viver
a ti pertence a realidade castanha de minhas visões
e serás o julgamento piedoso de minha danação.

Se amo cada defeito impiamente sagrado
que te define e me contradiz
pois esta em ti a fórmula cicuta da salvação
a qual velo, rezo e ojerizo.

Pois odeio-me por não te possuir
e odeio-o por amar-te livre
me colocando voluntariamente em escravidão
que inocentemente mais uma vez me domina.

FFLCH, 1998





A memória sob mãos proveitosas
gestos que escondem versos
trajetos que desviam deslizes
olhos que cerram a mente.

Luzes que calam e matam
traumatismos que cicatrizam
sob a agua corrente.
Alicerces de areia.

Lágrimas a escolta
música aos porões
silencio aos inocentes.
Beijo da amnésia.

Quiromancia, 1998




Sigo as linhas proféticas de minhas palmas rosadas

mostrando a solidão nestas cicatrizes natas

Procuro por sinais glorificadores de sua presença

por rugas da juventude ou marcas do porvir.


Sinto a latência central sob a pele marcada

comandando um cruzar geográfico de veias e pulsações

que desesperam-se a manter os fluidos místicos de minha trajetória

a medir na intercessão das linhas a possibilidade de união.

Impossibilitado de me conhecer

pois nem ao menos familiarizo-me com minha palma

abandono a tradição quiromantica do ser
para entender-me unicamente em sua pessoa.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Calculado silêncio,1998





Quebro o silêncio líquido de nossas mentes

pois chovo por querer-te vento

imaginando seu contemplativo olhar
tornar-se espelho

sua utópica pele transfigurar-se fronteira.

Temo por sua voz hora real hora covarde
em declinações paternal fraternal e filial

Elevando-me às brasas de sua respiração

que sufoca por tornar-me livre.


Hipnotiza-me com seu aspirar faminto e egoísta
e seu espirar ofegante de Azarro

Desejo sua voz como um suicida a liberdade

seguindo a força catalisadora de seu calculado silêncio.

Realidade Fatal, 1998.



Gostaria de poder tocar as faces morenas de meus fantasmas...

Sentir entre meus dedos o transpassar das luzes que me agridem

vendo-me invadido e proprietário deste prisma ideal.


Percebo-me trêmulo...
pois não posso me possuir sem antes te tomar.

Não serei sonhos de minha realidade açoitada

Nem príncipe entre véus cinematográficos.

Sendo assombrado pela corrosão que me abate

deixando-me perecer pela doença que me sustenta

que oscila entre letargia nirvânica
realidade fatal.

Platônico 1998




Desejo seu toque tempestuosamente macio
a aflorar-me como mártir de meu corpo
Quero sorver-lhe pelas farpas o seu céu
e destronar-te a uma humanidade acessível.

Demolirei nossos adarves intragáveis
para ressurgir a flor-acre de sua pele
Fundarei em seu corpo um império aminístico
onde poderemos nos eternizar em paraíso dual.

Façamos de nossos lábios, abismos
e de nossas palmas, âncoras
façamos de nossos corpos, abrigos
e de nossos desejos, feitores.

Para abraçarmos o inconquistável
onde surgirá o que sempre existiu
conseguindo solidificar nossos espectros
como a nódoa de nossas respectivas mentes
em nossos corpos trocados.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Estátua de Células

A máscara é a nata do leite
calhentações espumosas
esfriar pelicular
O leite
contido e protegido
Seio Panela.

Ser leite
amamentar de células
fronteira casulo
em couro e pele.

desnatado
condensado
em pó
integral

Máscara
estátua de células
ondulações no lago.

Aparentes



As máscaras são pétalas

debute e murchar
fotográficas feições

oscilações estáticas

esconderes estéticos

desviando olhares...

E nos mostram justamente o que não somos!
Aparentamos à Carrara
tanto ao esculpido
quanto ao escarrado.

Coragem Seda





Coragem é saber-se
desnudas verdades
olhos espalhando olhares
no chão fértil do indizível.

Aventureiros,
ventilações libertárias
entre véus
estendidos de Maya.

Coragem da seda
por deixar-se levar
pelas rosas dos ventos.

Desmascarar




Desmascarar é desmascar-se
Quando os olhos encontram-se
as faces congelam
e cada um passa a ser o que deveria ser.

Por deveria,
será cobrado:
câmeras ocultas
portas trancadas
"legitimável" desconfiança
fraterno controle.

A solidão terrível
de um dia após o outro
quando não somos
apenas estamos entre ensaiadas personagens.

Então... as mácaras
que idolatram falsos seres
enganam o espelho ao perguntarem:
Quem sou eu!


Teatro Vivo




Somos reencarnações míticas
Um teatro,
espaço aberto para claclet e bravos


Um mito contando histórias

Na areia visões de blumagens celestiais...
Na floresta
aponta-se estrelas ouvindo o silêncio...
No gelo o frio espelho onde Narciso se mira...


Contadores de vidas

cujas palavras-pegadas
eram grãos de pão
espalhados pelo caminho da mata escura.



E cada conto aumenta um ponto.

Virgulações cotidianas,
Exclamações existenciais!
-Travessão dialogal

Não vivemos
apenas contamos
uns para os outros

a história destes refletidas nas nossas.



quarta-feira, 8 de julho de 2009

Oração ao Arcanjo Michael


De muitas formas ele era nosso espelho
nossas tristonhas deformações

nossos mundos sem lugar
amor e perversões

sexo dos anjos?


Michael o arcanjo!
Família das cores

fascínio e vitiligo
imagem que canta!
gestos mecânicos
atração quântica.

Michael e o mundo...
capa da Times
entre
flash e acusações
somos todos assassinos
somos todos redentores.

Receba Arcanjo!
Nossa inveja
nossos olhos
nossas perguntas

nossa devoção!!

Salve São Michael o Arcanjo!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Máscaras



No transbordar de tristesas
represadas máscaras
peso aquoso do choro
inundando feições
abarrancando a face.

O choro por fim,
nos sai invisível
transparente sangue
sileciosos soluços
que procuram
no seu desmanchar
o rosto das tardes de nossa infância.






Dança das almas


No festim das almas
que frenéticas dançam em meu corpo
descubro que minha solidão
é mera morada de toda humanidade.

domingo, 21 de junho de 2009

Conversas Aladas


homem: Mas senhor anjo? Como posso vencer a tentação da fresca maça?
Anjo: A melhor forma de vencer as tentações é entregar-se a elas...
Homem: Não estaria eu imerso em pecados?
Anjo: Quem é mais nobre? aquele que se entrega a carne e logo a abandona ou aquele que frustra-se por nega-la e carrega o desejo consigo?
Homem: Por que senhor, apesar dos meus cristãos apelos, o demônio insiste em seduzir?
Anjo: O Demônio não é senhor... é servo de vossas vontades...
não é sedutor...e sim, esta seduzido por humanas possibilidades...




quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Nu entre palavras


Estou nu entre palavras - Nu.
Vestido por seus olhos,

doces tecidos que não me pertencem
linhas invisíveis entre meus membros
lento desabotoar de meus pensamentos
retalhos de vossos lábios sob meus sentimentos.

Estou nu - e ainda sou rei.
Suas
trêmulas mãos,
que, entre papéis,
seguram minha vida.
Seu trêmulo olhar
como linhas percorrem meus abismos
Sua
trêmula saliva que umidece o silêncio,
e com ele, meu amor.

Céu nas ruas



Ceu imóvel
Chuva que desmancha
os tijolos da casa
devolvendo à lama
a ação que transformou
em retângulo a terra.

Por traz da cerca
os vidros coloridos
feitos para ferir.

Como vitrais
a tingir a chuva
que se transforma em rio
na rua, ao passear dos carros.




domingo, 25 de janeiro de 2009

Sonhos inSônia


Surto de arte
febre criativa
sonhos em insônias
transitar de loucuras.

Somos mensageiros
asas na mente
asas nos pés.
Entre céus
trevas e luz
Entre terras
abundância e controle
Entre si
todos os nossos eus
a procura de caminhos.

Caminho Poético


A poesia é um caminho
as palavras são janelas
em um dia chuva noutro sol
em um dia pássaros no batente
noutros ladrões a espreita.
O que muda é o olhar ou a paisagem?
O que entardece? o que amanhece?
As palavras lhe pegam pelas mãos e lhe convidam a caminhar
pelo indizível onde os silêncios prosperam
se alimentando da terra luz e água
e desses: as transcendências.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Caminhos


Cada um tem a vida que deus lhe deu






na simplicidade do olhar

Mundos e Mundos.

Na retidão tortuosa
de nossos corações
a caminhar sobre o sal misturado às águas;

Com o suor de cada dia
a evaporar lágrimas em chuva
dormindo no abraço da virgem
sentindo o cheirinho do campo que não nos pertence mais;

Caminhar é abandonar o mundo para recebe-lo em troca.

Deitar no céu


Vou subir sim, mas aos pouquinhos...
que é pra não perder aquele macio gostoso
dos pés sobre a terra fofa...
vou subir sim...
de mansinho meio sonolento

Preguiçoso arco-íris a levantar-se do chão
para deitar-se no céu.